Aumente sua imunidade.
22 de outubro de 2020Aumente sua imunidade.
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Melhorar a imunidade virou assunto da atualidade. Uma medida para reforçar as defesas, inclusive de adultos, é tomar vacinas.
Cuide do coração, do colesterol, do açúcar no sangue. Orientações como essas são vistas comumente. Mas não é frequente ouvir recomendações sobre a imunidade. Em momentos de epidemias ou em que uma doença passa a ganhar manchetes da imprensa, no entanto, as atenções começam a se dirigir para os sistemas de defesa do corpo. O que fazer para fortalecê-los?
Para se ter uma boa imunidade, medidas simples podem ser adotadas. Três pontos são fundamentais: alimentação saudável e equilibrada, dormir bem e praticar exercícios com regularidade.
Também não se pode negligenciar o calendário de vacinação, que não se limita à infância, como alerta Wilma Carvalho Neves Forte, presidente do departamento de Imunologia da Associação Paulista de Medicina, professora titular de imunologia da Faculdade da Santa Casa de São Paulo e autora do livro Imunologia – do básico ao aplicado (Ed. Atheneu).
Ela ensina essas e outras formas de melhorar nossas defesas.
Pergunta – Em 2020, a imunidade entrou nas discussões familiares. Mas as pessoas não sabem direito como se garante isso. O que devemos fazer para ter boa imunidade?
Wilma Carvalho – Agora, mais do que nunca, é preciso ter imunidade adequada. Existem algumas atenções básicas que devemos ter para manter a imunidade. A primeira delas é a alimentação, que precisa ser saudável e equilibrada. O segundo é o sono, que deve ser reparador. Isso é difícil às vezes. Nem todo indivíduo consegue ter sono bom e reparador.
Uma das coisas ditas pela neurociência é que para a gente aprender a ter um sono bom é respeitar os horários de dormir e acordar. Ou seja, se preparar para dormir e acordar sempre no mesmo horário. Esse é um mecanismo para se ter sono reparador. Há um terceiro item, que é igualmente importante: a atividade física. Ela precisa ser regular e deve ser algo de que a pessoa gosta. Já foi bem constatado que não adianta o indivíduo pegar uma atividade física em que não tenha prazer. Porque ele termina por desistir depois de um certo tempo.
Então, não adianta. A atividade física ajuda muito a pessoa a ter uma boa imunidade. Por isso, a missão de colocar as pessoas em movimento é muito importante. Isto é o básico para as pessoas começarem a ter uma boa imunidade: alimentação, sono e atividade física.
P – Vacinas também entraram na pauta. Mas, de fato, elas são um assunto um tanto esquecido pelas pessoas. Muitas vezes se pensa que elas são apenas para crianças. Qual calendário a gente não deve esquecer?
Wilma – Vacinas nunca devem ser esquecidas. São muito importantes. Basta lembrar que a varíola foi a primeira doença erradicada da humanidade. E isso foi por meio da vacina (em 8 maio de 1980, a OMS declarou a varíola erradicada. O vírus matou, somente no século XX, mais de 300 milhões de pessoas no planeta. Foi mais letal do que a gripe espanhola e a peste). Isso pode acontecer com outras doenças, como o sarampo, que não é totalmente erradicado porque falta vacinar algumas populações e porque tem gente que não toma vacina, o que é algo ruim. Muitas vezes, mães e pais lembram de vacinar seus filhos – o que é excelente –, mas se esquecem de se vacinarem. Isso a gente vê constantemente na prática diária. Adultos também precisam ser vacinados.
Tem, por exemplo, a tríplice viral, que é contra sarampo, caxumba e rubéola. Às vezes a pessoa não tomou uma dessas três vacinas. E precisa estar vacinada. Então, com uma única dose o adulto está imunizado. Pronto. Acabou a história. Tem outra vacina, que a gente chama de dupla, que é contra difteria e tétano. Também precisa ser tomada pelo adulto. É recebida uma vez a cada dez anos.
Uma que não é muito recebida, mas precisa ser aplicada é a da hepatite B. O adulto tem de ser vacinado. Sobre a febre amarela, basta uma dose que é suficiente para toda a vida. Mas é preciso lembrar que essa vacina deve ser recebida não só antes de viajar para regiões fora do país onde há febre amarela. Hoje em dia tem muita região no Brasil que tem a doença. Então, é necessário ver se a pessoa está numa região em que a prevalência da febre amarela é alta.
Tem de lembrar que, acima dos 60 anos, tem a vacina contra gripe, que é anual. E precisa ser feita. Tem ainda a pneumocócica, que serve para evitar pneumonias mais graves, que são mais frequentes depois dos 60 anos. A vacina pneumocócica tem uma aplicação que varia um pouco.
Depende das condições do paciente. Pode não ser uma vez por ano, pode ser de cinco em cinco anos. Cada caso é um caso. Fundamental é lembrar que ela existe e tem de ser tomada. Todas as vacinas que citei estão no sistema público de saúde, exceto a pneumocócica para adulto, mas há uma vacina equivalente com duração de imunização um pouco menor. Se a pessoa não consegue ir para uma clínica privada, consegue uma variante.
P – A crença de que as vacinas não são eficazes, esse negacionismo, se espalhou pelo mundo. Isso significa que a imunidade está ameaçada em virtude das “notícias” enganosas?
Wilma – Fake news são um problema que afeta a comunidade de uma forma geral. Por exemplo, o sarampo já era para ter sido erradicado. E não foi. Começou com alguns negacionistas, que não vacinaram as crianças, nem vacinam. E eles, como adultos, também não tomam a vacina.
Vejamos, então, um índio que não tem contato com o branco. Na hora em que tiver, ele pega um sarampo gravíssimo, que pode levá-lo a óbito. Isso compromete outras populações, não só a indígena. Se começarem a retirar vacinas de alguns grupos, isso é um risco. A criança pode ter um sarampo mais leve. O adulto, muitas vezes, tem um sarampo bastante grave. É muito perigoso, tanto para a criança quanto para o adulto, se as vacinas não forem recebidas.
P – A saúde psicológica pode ajudar a aumentar a imunidade? O que a ciência aponta nesse sentido?
Wilma – A saúde psicológica tem sido cada vez mais estudada. Por exemplo, a ciência já comprovou muito bem que o stress crônico diminui a imunidade. Isso leva a infecções e, muitas vezes, coincide com o aparecimento de tumores malignos. Ou seja, infecções e neoplasias estão muito relacionadas ao stress crônico. Há ainda a influência sobre doenças autoimunes. O stress agudo também pode determinar a diminuição temporária da imunidade.
É o caso de estudantes que ficam muito estressados diante de provas. Com isso, eles têm gripes, amigdalites, sinusites nessas ocasiões. Esse stress aumenta o corticosteroide no sangue e diminui as defesas. Por isso, o lazer pode ajudar a combater o stress. Assim, indiretamente, poderia ser indicado contra o stress, da mesma forma que o exercício físico.
P – E no caso de depressão? Há alguma relação entre depressão e baixa imunidade ou isso não tem sido investigado?
Wilma – As investigações não seguem tanto nessa linha. As que existem indicam que o paciente com depressão tem mais neoplasia.
Então, algo da imunidade está baixo. Quem sofre de depressão tem infecções mais crônicas. Portanto, a defesa deve estar comprometida. Já o papel do stress está bem delimitado.
P – É possível pensar que, quando se aumentam as sensações de prazer e felicidade, quando o exercício libera endorfinas, isso de algum modo, ainda que indiretamente, pode ajudar a melhorar a imunidade?
Wilma – É uma inferência. Não está totalmente provado pela ciência.
Mas é muito possível que isso ocorra. Tudo está ligado, relacionado. Se você tem atividade física, tem liberação de endorfina, tem sensação de felicidade. Isso impacta a saúde psicológica e diminui o stress e a depressão.
P – De um modo geral, como o brasileiro cuida da saúde? Além dos três pontos principais para se cuidar da imunidade, o que mais deve chamar nossa atenção para termos uma vida longa, ativa e com qualidade?
Wilma – O brasileiro nem sempre cuida bem da própria saúde. Em termos de imunidade, é importante cuidar daqueles três itens básicos, mas há outras coisas que podem ser feitas. Evitar o uso de drogas é uma delas. Isso já está bem associado à diminuição da imunidade.
O excesso de bebidas alcóolicas, de forma crônica, reduz também. O fumo, seja ativo ou passivo, diminui o batimento mucociliar (um dos principais mecanismos de defesa do sistema respiratório) e o indivíduo deixa de evitar patógenos. E isso pode atingir uma criança pequena, que é fumante passiva, que passa a ter mais infecções. Outra coisa importante é fazer exames médicos preventivos.
O brasileiro tem costume de ir ao médico só quando está doente. Lógico, ele tem de se tratar. Mas pode fazer, além disso, exames preventivos, de rotina. Eles incluem resultados de várias pesquisas, que podem ensinar a pessoa a cuidar melhor da saúde. Outro ponto é que todo indivíduo, não só o brasileiro, deveria aprender a lidar com situações estressantes. Isso é difícil, mas é preciso. Para tentar melhorar a qualidade de vida e ter uma vida longa.
P – Sobre a pandemia, como avalia que ficaram os pacientes? As preocupações se voltavam muito para a imunidade ou mais para as consequências futuras? De que forma lidamos com a crise?
Wilma – Para qualquer pessoa é difícil lidar com a crise da covid-19. E a crise se torna ainda mais acentuada quando se tem uma diminuição da imunidade. Há pessoas que já nascem com imunidade diminuída, com a imunodeficiência primária.
Esses pacientes têm muito medo e com toda a razão. Eles têm medo de ir ao hospital, mas precisam ir ao hospital para receber medicamento – alguns são dados apenas lá. Durante a quarentena, isso aconteceu não só com pacientes que nasceram com a imunidade baixa. Todo indivíduo portador de hipertensão, de cardiopatia, de neoplasia ficou com medo de hospital. Então, na hora em que decidem ir, em geral, eles estão mais graves. É muito difícil lidar com tudo isso. Inclusive para o médico, que fica preocupado com o paciente. A gente se preocupa quando vão para o hospital ou quando não vão.
Sobre a vacina contra a covid-19, a gente espera que cumpra todas as etapas necessárias de estudo. Digo isso porque se começarem a dar uma vacina sem cumprir as etapas, e ela der errado, outras vacinas poderão ficar desacreditadas.